Por:
Carlos T. Grzybowski
A
letra de uma antiga música popular brasileira (“Emília”) dizia: “Eu quero uma
mulher que saiba lavar e cozinhar; e que de manhã cedo me acorde na hora de
trabalhar”. Esta afirmação reflete muito do machismo cultural do povo
brasileiro, que vê na relação conjugal a esposa como serviçal: Amélias e
Emílias da vida. Tal machismo remonta os primórdios de nossa colonização pelo
‘civilizado’ homem europeu, que chega ao nosso continente, usa as nativas para
a sua satisfação sexual egoísta e vai embora, não constituindo família e
retornando para seu lar, que havia ficado sob os cuidados e administração de
sua esposa. O machismo histórico brasileiro cria duas fantasias a respeito da
mulher: a mulher serviçal que deve ficar em casa e cuidar da administração do
lar e da educação dos filhos, servindo ao marido em todos seus mimos quando
este retorna para casa; e a mulher sensual, fogosa, cheia de volúpia e pronta a
dar o prazer sexual ao homem desejoso. Estas fantasias são, na mente masculina,
irreconciliáveis e isso leva muitos homens a tratarem mal suas esposas e terem
casos fora do casamento. Na realidade o que realmente o homem espera de sua
esposa é uma mulher que o ajude na construção de sua auto-estima! A sociedade
impõe, a cada dia que passa, uma performance cada vez maior ao homem, tanto em
sua vida pessoal como profissional e isso faz com que este homem sinta-se
incapaz de atender todas as expectativas e demandas que se lhe impõe. Sente-se
fragilizado e necessita de alguém ao seu lado que o incentive e ajude nesta
caminhada. Essa é a principal tarefa da esposa: auxiliar na construção da
auto-estima de seu marido e, em última instância é o que os maridos esperam de
suas esposas. Nesse sentido ela cumprirá o seu papel de “ézer knegdo” (do
hebraico: auxiliadora idônea), como descrito em Gênesis 2. Não uma auxiliar de
serviços, como culturalmente e erroneamente este texto tem sido interpretado
muitas vezes, mas como alguém que vem em meu auxílio para me ajudar em algo que
eu não posso sozinho. (o mesmo termo é atribuído a Deus quando nos Salmos nos
diz que Ele é nosso auxílio e socorro bem presente no momento da tribulação). Assim
a esposa cumpre um papel que não pode ser cumprido por qualquer um, pois é
necessário um nível alto de intimidade para aceitar a ajuda, ou mesmo para
reconhecer que necessita ser alentado na construção de sua auto-estima. Lamentavelmente
nosso machismo cultural não só leva o homem a bloquear sua percepção desta
necessidade, como a recusar qualquer tipo de auxílio de sua companheira para
seguir adiante na valorização de si de forma saudável e positiva. Como
conseqüência desta negação, o homem se isola em seu ‘ninho televisivo’ ou
afunda-se em compulsões (álcool, drogas, esportes, etc.) e relaciona-se com a
esposa num padrão objetal (uso do outro) e eternamente insaciável – sempre
insatisfatório (a não ser que a esposa vire ‘Amélia ou Emília’ – serviçal no
lar – e aceite que o marido tenha suas musas/amantes fora do lar; mas aí será a
esposa que terá que anular sua auto-estima). Reconhecer que o modelo idealizado
por Deus na criação é um modelo de saúde integral para a relação conjugal e
buscar viver neste padrão – não a partir da interpretação cultural machista que
muitos impõe ao texto – é sem dúvida o melhor que o casal pode fazer na busca
da realização conjugal. E esta é uma tarefa de construção contínua...
Fonte: www.clickfamilia.org.br